Sincronicidade

Não me recordava da sensação de tristeza.

A entorpecência cotidiana. Lavanderia. Vizinhos. Cerveja. Alguém havia atingido aquela expressão máxima da liberdade: acharam um corpo pendurado no terraço.

Um ato premeditado. Avant-Garde. Como sempre, o fizeram antes de mim. Prepotência minha! Ó, Aristófanes, afaste-me e faça-me gargalhar. Um suicídio. Um episódio do Monty Phyton.

Essa semana amarrei uma corda no pescoço. Olhei friamente para a distância que separa o sétimo andar do asfalto. Poderia morrer ali, altura 500 da Avenida Jabaquara, mais ou menos.

Estava pronto. Faria tudo tão calmo quanto Sócrates, esperando o retorno de Creta. A carta que seria encontrada no bolso do meu melhor blazer, estava devidamente escrita. Norma culta. Monóxido de carbono. Corda de algodão. Ácido lisérgico. Um riff do Lou Reed.

Aquele vizinho, ao me contar sobre o corpo, frustrou meus planos, tirou de mim o vazio, e trouxe-me a tristeza. Não posso mais me matar, pois neste condomínio, alguém suicidou-se antes de mim.