Garotos do Subúrbio

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Foto da capa por Pierry Oliveira

Aqueles garotos caminhavam a pé lá do Conquista até o terminal São Mateus porque o cenário Eastwood da periferia era tão aprazível aos seus ricos olhares, que fazia cintilar no horizonte um vislumbre daquele futuro tão cheio de promessas. As promessas eram só promessas. Mas o futuro parecia tão distante que sobrava tempo até para sonhar e delirar com as estrelas na Praça do Vinho. Naquele tempo os beijos tinham gosto de melancia, e cada abraço era como pisar na lua. Promessas. Muitas promessas foram feitas. E aquele garoto conhecido por fazer sexo oral em outros garotos do bairro, tinha um toque tão sutil, mas deixava evidente que aquela seria a sua primeira vez. Boatos. Sempre boatos. Motivos de pensamentos suicidas e uma certa inclinação ao vício. Promessas. Muitas promessas foram feitas. Aqueles garotos de 15, 16, 17 anos. Cada movimento, cada gesto transbordava sensualidade e subversão. Fumavam maconha furando uma maçã! Utilizavam o fruto do diabo colhido da árvore da sabedoria para realizar aquele ritual: consagravam a Santa Maria e liam corajosamente seus poemas. Promessas. Muitas promessas foram feitas. Aquele garoto um pouco mais velho, que passava oito horas por dia sem ver a luz do sol, andava na rua com medo de tomar enquadro com o estilete no bolso e não ter tempo de explicar que era um estoquista. Esse garoto, que versejava hipnoticamente o cotidiano durante seu horário de trabalho, merecia todo o prestígio do Ricardo Stuckert, merecia a conta bancária da Gabriela Biló, merecia com toda certeza uma exposição de destaque naquele Sesc da Avenida Paulista. Promessas. Muitas promessas foram feitas. Um dia esses garotos seriam grandes arquitetos, fotógrafos, acadêmicos… Estariam tomando cerveja honradamente na varanda sem temer o fim do mundo. Esses garotos de ricos olhares, de boas notas, que liam todos aqueles livros sentados nos degraus da lotação; esses garotos tão utopistas continuam caminhando a pé lá do Conquista até o terminal São Mateus.