Fotografia da capa por @dan.olinad
CRUA é puro desejo. Muito mais do que um projeto musical, é pulsão revolucionária da terra. Faísca capaz de inspirar e inflamar corações, algo que há muito tempo o Rock ‘n’ Roll deixou de fazer.
Ao escutar Coração Rebelde é importante ter em mente que estamos escutando o resultado de anos de práticas e experimentos anarquistas. Um álbum que só foi possível dentro das condições de temperatura e pressão adequadas. Andreza, Geise, Nelsinho e Josimas cultivaram o álbum de estreia da CRUA através da permacultura, com muito suor e autonomia, dentro do espaço-laboratório Semente Negra.
Logo na primeira faixa, “Consumidores”, somos confrontados com uma fala do Ailton Krenak imersa em microfonia, deixando muito claro o que esperar do projeto: “Nós estamos em guerra. […] O seu mundo e o meu mundo estão em guerra.”
A voz incendiária da Andreza Poitena traz escancarado o encontro poético e político entre o punk e o modo de (r)existência dos Tupi Guarani: “Há quem sinta o chamado da mata/Que une matilhas, que se embrenha na vida/que explora novos mundos/sendo livre e construindo outros significados”.
Faixas como “Liberdade”, “Rótulos” e “Dança” parecem afirmar singularidades para muito além do individualismo neoliberal. Singularidades que são fortalecidas através da relação entre as múltiplas vozes do projeto.
Temas como antiespecismo e anticapitalismo aparecem de forma nada óbvia em letras diretas, inspiradas e incisivas. A maneira como o disco foi gravado, através do “faça-você-mesma”, se evidencia na sonoridade explosiva e extremamente aguda dos instrumentos. Tudo é muito dilacerante, impetuoso.
É ódio maturado cultivado com muito amor.
Uma das maiores potências do projeto é a faixa “Floresta”; que traz ao seu final, um ícaro entoado pelo indigenista Bruno Pereira e indígenas Kanamari. A mensagem é clara, não há paz. A guerra foi declarada há muito tempo.
Fronteiras são rompidas, e mais uma vez o punk atravessa a hegemonia institucional. O anarquismo funciona? O anarquismo está vivo diante dos nossos olhos, e CRUA está no mundo para amotinar nossos corações feito gasolina na garrafa.
Ficha técnica extraída do Bandcamp:
Gravado no Estúdio Semente Negra, em meio a floresta, em Setembro de 2022.
Produção Crua
Mix e masters por Alex Prado
Artes por Flávio Grão
Diagramação por Crua
Todas as músicas e letras por Crua
Áudios adicionais:
Introduções por Ailton Krenak retiradas do documentário Guerras do Brasil.
Canto WAHANARARAI, por Bruno Pereira e indígenas Kanamari, na música Floresta.
Bruno Pereira, indigenista de coração, foi assassinado em 2022, no Vale do Javari, Amazonas, por lutar junto com os povos indígenas pela proteção da floresta, pela demarcação de terras indígenas e pelos direitos dos povos originários.
Utilizamos este canto coletivo para expressar a importância das lutas coletivas e apoio mútuo.
Tudo que compõe este disco foi feito por um motivo: Mudanças! Por isso, o uso de tudo que o constrói, ou parte dele, é livre e pode ser copiado livremente.